Eu tenho um sonho antigo
que persiste como um gosto ruim na boca.
Era uma sopa, uma sopa
de vinho. Mas o líquido em minha cuia era verde, um verde translúcido
misturado ao arroz bem branco colado como pão_ talvez fosse pão. Talvez eu
tivesse bem uns quatro ou cinco anos quando sonhei esse sonho que me fez
acordar torcendo a boca na investida imediata contra aquilo que de alguma forma
se mostrava como marca, agora não mais, inconsciente.
Algumas coisas posso
dizer sobre isso, dos sonhos e dessas imagens que se cruzam e têm gosto, dor e
cheiro próprios. Alguma coisa no meu caminho é certamente ligada de forma íntima
à essa experiência do sonhar. Mas o que me chama atenção hoje, depois de mais
de vinte anos desse acontecimento, é que possa eu ainda torcer a boca e sentir
o gosto daquele sonho ao me deparar com qualquer bebida real que me lembre àquela
da sopa de vinho verde.
Talvez a composição da
matéria do sonho seja mais resistente que as fibras da matéria da carne. Talvez
ainda, seja a carne, matéria mais onírica do que cotidianamente exercitamos
constatar.
Eu tenho um gosto
antigo que persiste como sonho ruim na boca.
"Talvez seja a carne, matéria onírica" :))
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