Uma
pessoa, sem sexo definido, acorda de repente, levanta enrolada no edredom e
caminha até a porta do quarto aonde dorme. Pendurado na maçaneta, um bilhete
diz: Me encontre no telhado às três e quinze da manhã. Olha em volta, ninguém.
Olha seu relógio de pulso: três horas.
Pé
após pé volta pela penumbra à beirada da cama. Se senta. Sente que no papel há
um leve perfume de nozes. Começa a pensar que algo estranho está acontecendo
ali. Nunca havia dormido de relógio, também nunca visitara o telhado de sua própria
casa. Na verdade, não fazia ideia de como chegar nele, e lhe veio à cabeça que
aquilo era um absurdo: não conhecer o telhado da própria casa!? Isso, de fato,
pode significar muita coisa. Pensou em tantos dias de chuva e de sol em que o
telhado lhe fora fiel. Pensou que, olhando de longe, ele era até bem bonito.
Mas... e de perto? O que aquelas velhas telhas, ou madeiras, ou seja lá o que
for, poderiam lhe dizer?
Leu o bilhete novamente: “me encontre no
telhado às três e quinze da manhã.” A pessoa então começou a ficar irritada com
o fato de estar dormindo mal há duas semanas! Maldita insônia! Já eram quase
três e quinze e ela estava ali acordada por nada, pensando no telhado, pensando
em bobagens que talvez nem existissem! Afinal, quem são esses desocupados que
deixam bilhetes pelos cantos, marcando encontros pelos telhados? Ponderou, riu
um pouco de alguma coisa, abriu a gaveta, pegou um calmante e às três e quinze
da manhã dormiu.
Ana G. R.