“_Hilda, o que é escrever pra você?"
_Não tenho a menor ideia. É muito
difícil. Às vezes é uma inspiração súbita que te dá. Mas também é muito
difícil. A gente fica, chega a ficar com febre, com febre mesmo.”
( Entrevista Hilda Hilst, 2002)
Então alguma coisa da escrita é febre. Alguma coisa da escrita acontece nessa experiência intensa de afetos: do afetar e do deixar afetar-se. O afeto no exercício de desdobrar paisagens é o peso, desequilíbrio que impulsiona o movimento.
Recebo afetos como água que precisa circular. Toda água parada em mim me adoece. A escrita vem nesse fluxo... A escrita movimenta. É como o trânsito de muitas personagens e paisagens febris que compõem todos os lugares. Porque pra que as coisas existam, mesmo as coisas comuns, é preciso que haja uma costura fina de febre, e doença, e estranhezas.
É preciso que haja um mundo fantástico na substância do real. O escritor é aquele que consegue ver esse mundo vivo, esse movimento de febre que transpõe a dureza do real.