sexta-feira, 27 de maio de 2016

Mais de 100



O tempo, neste momento, é para falar de Hilda Hilst, que não queria ser bailarina. Que queria escrever, e que escreveu intensamente. O Koisa, A Obscena Senhora D, Contos D’escárnio e tudo mais que lhe disseram ser muito difícil de ler. Literatura não é fácil. Literatura não é didática, é melhor.

O tempo é para falar de Cecília Meirelles e a delicadeza de se fazer pensar sobre os cavalos da inconfidência.
O tempo é emergente.
Mais de cem.
Muito mais de cem.
Urgente.

O tempo é para falar de Nise da Silveira e o fim da lobotomia. O tempo é para livre circulação de gatos nas salas. Sem constrangimentos, sem abusos, sem sussurros, sem fiu fiu.
O tempo é para falar de Karen Horney e a psicologia feminista. O que é ter útero?

Ter útero,
 ser útero.
Espaço sagrado, lugar de criação.

O tempo é para falar da patologização do útero e a potência de mulheres que param máquinas de produção em massa.
O tempo é para viver a beleza e a força da minha avó.
O tempo é das guerrilheiras do Araguaia, das rendeiras do São Francisco, das Marias Brasilianas, e das afrografiteiras.
O tempo é de Clara Zetkin! Professora, jornalista, socialista, criadora e redatora chefe, em 1892, do jornal “A Igualdade”

O tempo é da líder quilombola Teresa de Benguela.
O tempo é de Viviany Beleboni
Iara Iavelberg
Malala Yousafzai
Ieda Seixas
Dilma Rousseff
Camille Claudel
Cassia Eller
Laerte Coutinho
Antonieta de Barros
Frida Kahlo, Pilar del Río, Anne Fisher, Nina Simone, Hannah Arendt e Leila Diniz.

O tempo, já sem tempo, é Simone de Beauvoir e ainda o segundo sexo, que se pergunta estarrecido: “_ onde estarão o primeiro e o terceiro!?”

O tempo não são 30,
 são mais de 100.
 Muito mais de 100 mulheres!

Porque 30 se fizeram repetir na dor, e mais de 100 fazem questão de luta.
 Para não se repetir.
Porque é preciso mais que resistir.
Porque mais de 100, muito mais de 100...
Se fazem existir.



Ana Gabriela Lúcia Joaquina Laura Fátima Beatriz...