sexta-feira, 15 de março de 2019

gosto ruim na boca




Eu tenho um sonho antigo que persiste como um gosto ruim na boca.

Era uma sopa, uma sopa de vinho. Mas o líquido em minha cuia era verde, um verde translúcido misturado ao arroz bem branco colado como pão_ talvez fosse pão. Talvez eu tivesse bem uns quatro ou cinco anos quando sonhei esse sonho que me fez acordar torcendo a boca na investida imediata contra aquilo que de alguma forma se mostrava como marca, agora não mais, inconsciente.

Algumas coisas posso dizer sobre isso, dos sonhos e dessas imagens que se cruzam e têm gosto, dor e cheiro próprios. Alguma coisa no meu caminho é certamente ligada de forma íntima à essa experiência do sonhar. Mas o que me chama atenção hoje, depois de mais de vinte anos desse acontecimento, é que possa eu ainda torcer a boca e sentir o gosto daquele sonho ao me deparar com qualquer bebida real que me lembre àquela da sopa de vinho verde.

Talvez a composição da matéria do sonho seja mais resistente que as fibras da matéria da carne. Talvez ainda, seja a carne, matéria mais onírica do que cotidianamente exercitamos constatar.

Eu tenho um gosto antigo que persiste como sonho ruim na boca.  

Ana Gabriela Rebelo _
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